Kant, na parte de sua obra dedicada à moral, tentou criar uma espécie de "teoria pura da moral", algo como Kelsen quis fazer em relação ao direito. Ele busca isolar a moral de todas as outras influências que podem determinar nosso comportamento. Não tem valor moral, por exemplo, a ação adotada por receio da punição prevista em lei ou mesmo da desaprovação das pessoas. Da mesma forma, não teria valor moral a conduta ditada por um afeto, mesmo positivo, como a simpatia, a compaixão ou o amor. A ação moral "pura" seria comandada apenas pelo dever de obediência à lei moral.
As relações entre o amor e a moral são debatidas na filosofia. Em geral, a moral é considerada um "minus" frente ao amor. É este que, na verdade, estabelece o que pode ser o padrão mais elevado da nossa conduta. A moral tentaria espelhar-se no amor: "aja como se amasse" seria a máxima que nos permitiria atitudes moralmente corretas. Talvez venha no mesmo sentido a conhecida frase de Santo Agostinho: "ame e faça o que quiser."
De qualquer forma, prevalece na filosofia, por influência kantiana, a distinção conceitual entre moral e prudência. A moral é a ação desinteressada, a prudência, ao contrário, é o cuidado com as consequências do comportamento, com o que ele pode trazer de vantagens e desvantagens. A ação moral advém do "imperativo categórico" e sua característica marcante é desprezar as consequências; por isso se fala numa ética de princípios, baseada em Kant, e numa outra dita consequencialista, associada ao utilitarismo.
A psicanálise trata a moral de forma distinta, embora lhe confira lugar de suma importância na sociedade e no psiquismo individual. Freud tem uma visão hobbesiana do homem e da sociedade: o Estado e a moral são necessários para sufocar em nós o lobo primitivo. Contudo, essa visão do homem que pode ser considerada pessimista, que admite em nós a persistência de impulsos agressivos e antissociais, pode suspeitar de nossas "boas intenções", caras a Kant. Nossas boas ações podem ser interpretadas de outras maneiras: podem servir para atrair a admiração e o amor das pessoas, para apaziguar a visão que temos de nós mesmos, podem até substituir uma ação nociva ou agressiva que logramos reprimir. Esfumaça-se, assim, a distinção entre moral e prudência, egoísmo e altruísmo.
As relações entre o amor e a moral são debatidas na filosofia. Em geral, a moral é considerada um "minus" frente ao amor. É este que, na verdade, estabelece o que pode ser o padrão mais elevado da nossa conduta. A moral tentaria espelhar-se no amor: "aja como se amasse" seria a máxima que nos permitiria atitudes moralmente corretas. Talvez venha no mesmo sentido a conhecida frase de Santo Agostinho: "ame e faça o que quiser."
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Kant: teoria pura da moral? |
De qualquer forma, prevalece na filosofia, por influência kantiana, a distinção conceitual entre moral e prudência. A moral é a ação desinteressada, a prudência, ao contrário, é o cuidado com as consequências do comportamento, com o que ele pode trazer de vantagens e desvantagens. A ação moral advém do "imperativo categórico" e sua característica marcante é desprezar as consequências; por isso se fala numa ética de princípios, baseada em Kant, e numa outra dita consequencialista, associada ao utilitarismo.
A psicanálise trata a moral de forma distinta, embora lhe confira lugar de suma importância na sociedade e no psiquismo individual. Freud tem uma visão hobbesiana do homem e da sociedade: o Estado e a moral são necessários para sufocar em nós o lobo primitivo. Contudo, essa visão do homem que pode ser considerada pessimista, que admite em nós a persistência de impulsos agressivos e antissociais, pode suspeitar de nossas "boas intenções", caras a Kant. Nossas boas ações podem ser interpretadas de outras maneiras: podem servir para atrair a admiração e o amor das pessoas, para apaziguar a visão que temos de nós mesmos, podem até substituir uma ação nociva ou agressiva que logramos reprimir. Esfumaça-se, assim, a distinção entre moral e prudência, egoísmo e altruísmo.
O próprio Kant pensou sobre isso. Há algo de tranquilizador em agir bem, em ser bom, em adotar a conduta ditada pelo imperativo categórico. Seria um afeto que, na sua linha de pensamento, poderia retirar o valor moral da conduta: pode ser prudente ser bom, prazeroso, motivo de orgulho ou até de um sentimento de superioridade sobre os demais. Kant afasta a objeção afirmando que quando agimos bem o que sentimos é respeito, não por nós, mas pelo próprio valor da conduta, da lei moral, daí advindo também a admiração dos demais. O valor objetivo da ação moral é resguardado. Por que nos sentimos orgulhosos dela? Por que ela pode ser prazerosa? Porque tem um valor em si.
Código de Hamurábi, no Louvre: internalizamos a lei externa no superego |
Seria o caso de renunciar à pureza buscada por Kant, à beleza de sua construção conceitual. Abrandarmos as rígidas fronteiras estabelecidas entre a moral e o amor. O agir amoroso incluiria, como vimos, o agir bem. Mas agir moralmente talvez seja igualmente uma forma de amar, aos outros e a nós mesmos.