quinta-feira, 3 de julho de 2014

Lédio Carmona, Pascal e o divertissement

Escrevi essa crônica na Copa de 2010. Mas como só a publiquei agora, no livro "Mesmo que o mar tome tudo", e curtindo como estamos a Copa das Copas, divulgo-a aqui. Hoje Natália está muito, muito mais entendida e continua acompanhando o Lédio!


Na infância tive um time, o Atlético Mineiro, por ter nascido em Minas. Torci muito, tinha uniforme, chaveiro e tudo. Torci também pela seleção brasileira, desde a Copa de 1978. Depois fui me desligando, deixei de assistir aos jogos e, hoje, só chego a me interessar pela Copa. Em 1994, inclusive, minha apatia diante da Copa me assustou. Queria torcer, mas me sentia absolutamente sozinho, apesar do movimento à volta.



A cada Copa tento encontrar aquele gosto das primeiras, da infância. Vou preenchendo a tabelinha com os resultados dos jogos, fazendo um ou outro prognóstico diante de meus filhos. Mas, engraçado, as tabelas de hoje não têm mais aquele cheirinho que tinham em 78 ou 82, na época de Zico e Careca.

Mas até que nessa Copa de 2010 fiquei mais entusiasmado. Talvez porque minha filha de 15 anos se interessou surpreendentemente pelo torneio. Vê os jogos, conhece os jogadores, opina sobre o desempenho de cada equipe, cada vez com mais segurança. Fico feliz por vê-la assim motivada. Virou uma espectadora fiel de uma tevê de esportes, onde “comentaristas”, palavra e profissão que ela deve ter conhecido esse mês, falam o dia todo em Copa do Mundo. Embarco no entusiasmo dela, quero ver algum sentido nesses comentários, que esmiuçam todos os detalhes do campeonato. Procuro ver pelo lado da fraternidade mundial, da luta contra o racismo, torço pelas seleções de países pobres. Às vezes volto ao meu ceticismo e vou procurar outra ocupação.  Ela reclama e me convida para assistir, mais uma vez, às considerações do seu comentarista favorito, um tal de Lédio Carmona, um senhor de óculos, bastante ponderado.  



Lédio Carmona


Blaise Pascal
Pascal, filósofo francês dos mais agudos, disse que buscamos o divertimento, o divertissement, para escapar, mesmo que momentaneamente, ao destino cruel do ser humano, da solidão cósmica à qual estamos condenados. Esqueço todas essas considerações e assinto animado a seu convite. Vamos ver Lédio Carmona. Comparar os feitos dos jogadores, das equipes, criticar os erros da arbitragem, vamos, sim, todos, nós e os jogadores, nos divertir.  Comente, Lédio, até adormecermos, até de madrugada aí na África do Sul. Enquanto você fala e eu assisto ao seu programa com Natália, esquecemos os males da vida e somos felizes.

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