terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A Linha do Tempo: dividindo a História para melhor conhecê-la

Perdoem-me os mais lidos, mas me dirijo agora sobretudo a quem está começando, dando os primeiros passos em sua formação universitária. E tomo a liberdade de insistir num aspecto das aulas de História do ensino fundamental e médio, a que talvez não se dê a devida atenção. A divisão da História em períodos: Idade Antiga, Média ou Medieval, Moderna e Contemporânea. Um dia desses, ouvi um ministro, numa palestra, errar totalmente o alvo quanto à época em que viveu Santo Tomás de Aquino. Confesso que achei feio. A divisão da História pode ajudar a melhor associar e agrupar personagens históricos e acontecimentos.

O tempo da humanidade é ínfimo em relação ao tempo cósmico. Temos cerca de cinco mil anos de História, a nossa espécie deve ter em torno de duzentos mil e os hominídeos mais antigos em geral não têm mais que três milhões de anos. Isso é muito pouco se compararmos com os mais de 13 bilhões de anos desde o Big Bang. E antes dele? Mas não quero filosofar sobre o tempo, muito menos sobre o surgimento do Universo. Pretendo apenas, seguindo o ensinamento de Descartes de que é útil dividir para compreender melhor, voltar à velha divisão que os historiadores fazem da História, e que me ajuda até hoje.

Segundo os estudiosos, a história da humanidade só começaria com a escrita, portanto, com as civilizações egípcia e mesopotâmicas, em torno de 3.000 a.C. Sim, o nascimento de Jesus Cristo na Palestina é o ponto que divide a História para trás e para frente. Para trás, antes de 3000 a.C., temos a Pré-História, longa, como vimos, mas que não se reduz à vida nas cavernas. Em torno de 10.000 a.C., houve a chamada revolução neolítica, com a descoberta da agricultura, a sedentarização, o nascimento das cidades. Lembremos que quando os romanos ou os gregos aparecem na História, há muito já estavam estabelecidos em suas terras e tiveram tempo de desenvolver seus costumes, suas línguas, sua impressionante mitologia. Com o início da História, começa também a Idade Antiga ou a Antiguidade, com destaque para as civilizações romana e grega, que tanto nos legaram na área do direito e da filosofia. Segundo Rorty, toda a filosofia não é mais que notas de rodapé à obra de Platão (428-348 a. C).

A Idade Antiga só vai terminar com a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). Já estamos quase meio milênio depois da crucificação de Cristo, determinada pelas autoridades romanas, quando Roma estava no auge. A civilização romana do Ocidente cai sob a invasão dos bárbaros, que eram povos na fase neolítica e se mesclam às populações romanas em termos políticos e culturais, inclusive religiosos - adotando a fé católica - como são exemplo os francos, que já encontram na região onde hoje é a França, além da população romanizada, os povos celtas que ali estavam há mais tempo. A Europa é um cadinho de povos, daí não se poder falar em pureza racial.

Santo Tomás de Aquino, filósofo católico
da Idade Média (1225-1274)
Entramos na Idade Média, que já foi designada a Idade das Trevas. Isso porque houve um recuo urbanístico e comercial na Europa, que se "enfeudou". É a época do feudalismo, dos reis e vassalos, dos nobres, da cavalaria, das princesas e seus trovadores. Sobretudo, da Igreja Católica, que exercia o seu poder em todos aqueles países, o papa sendo considerado o "rei dos reis". A Idade Média irá durar cerca de 1.000 anos. A chamada Baixa Idade Média, já mais para o final, testemunha uma grande expansão territorial, com o desmatamento, o ressurgimento das cidades, do comércio, das feiras livres. Aparecia a classe de comerciantes, dita burguesa, pois morava nos burgos ou cidades, inaugurando também um novo sistema econômico, o capitalismo. Discute-se o marco final da Idade Média. Fala-se em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, com grande repercussão para o comércio europeu, ou às vezes, como prefiro, em 1492, com a chegada de Colombo à América. Nós brasileiros podemos também utilizar nessa periodização, para memorizar, o ano de 1500, com a descoberta do Brasil. 

Estamos então na complexa e curta Idade Moderna. Por um lado temos a centralização dos Estados Nacionais e a afirmação de suas monarquias, como em Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Itália e Alemanha demorariam mais a unificar-se. Os reis medievais não tinham tanto poder: nem tantas terras, nem tanto dinheiro, nem homens agrupados em grandes exércitos. Agora não, é a época do Absolutismo. Por outro lado, é um período de mudança de valores e de grande contestação, sobretudo ao poder da Igreja. Ainda no século XVI (1501-1600), temos dois grandes movimentos nesse sentido, a Reforma Protestante e o Renascimento, que foi um movimento cultural de revalorização da cultura clássica (da Antiguidade greco-romana) e neutralização da influência católica sobre as mentalidades. A partir daí, além do crescente desenvolvimento técnico e econômico, teremos um notável desabrochar das ciências, com figuras como Galileu, Kepler e Newton. E então chegamos ao movimentado e importante século XVIII. Nele, deve-se destacar o Iluminismo, que lhe deu o cognome de Século das Luzes; trata-se do movimento filosófico (Locke, Voltaire, Rousseau, Kant!) que, conferindo grande importância à razão humana, contestou a religião e os governos absolutos, levando às "revoluções liberais", às vezes também chamadas de "revoluções burguesas". É verdade que a Revolução Inglesa acontecera ainda no século XVII, cem anos antes da francesa, que ocorreu em 1789 - ano que marca o início da Idade Contemporânea. O marco nos parece bem escolhido. A Revolução Francesa, apesar dos abusos do Terror, traz a ideia dos direitos fundamentais da forma como os conhecemos hoje, e também a ideia da representação popular que está na base da democracia.

Bem, estamos já na nossa Idade. Ela passa pelo também estupendo século XIX, de Marx, Darwin e o início do trabalho de Freud. Século de desigualdades e de novas revoluções, dando ensejo ao surgimento do movimento político conhecido por socialismo ou comunismo, que tanto irá marcar o século XX. Este último, conhecemos mais, com seu desencantamento e suas duas grandes guerras mundiais, sem falar na Guerra Fria, que começa no final da Segunda Guerra, em 1945, e vai até a queda do Muro de Berlim em 1989.

A Idade Contemporânea terminou? Evidente que não se fala aqui em termos semânticos, mas se suas características alteraram-se tanto a ponto de inovar-se na periodização. Se entendermos que sim, sugerem-se alguns marcos finais. O próprio final da Segunda Guerra ou a queda do Muro de Berlim em 1989. Talvez o atentado contra as Torres Gêmeas em 2001. Enfim, só se conta a História depois que ela passa, de maneira que não podemos agora prever os desdobramentos dos acontecimentos que estamos vivendo, capazes de lhes realçar a importância. Como disse Hegel, a coruja de Minerva só levanta voo no crepúsculo!

É evidente que essa periodização é etnocentrista, europeia, esquece a História de índios, africanos, asiáticos. Mas, como já disse, ela pode ter utilidade, como ajudar a situar filósofos, movimentos, acontecimentos importantes. Fala-se, por exemplo, numa filosofia antiga, medieval, etc. Finalmente, para transformar a referência ao século numa referência aos anos, é útil subtrair um número, dessa forma: século XVIII (18-01=17, portanto, 1701-1800). E lembrar que o início de cada século dá-se no ano "1", o nosso século XXI tendo começado em 2001. 

Ah, ia esquecendo, Santo Tomás de Aquino, filósofo que buscou conciliar a fé católica com a razão aristotélica, viveu na Idade Média, no século XIII.